domingo, 21 de agosto de 2016

CAPÍTULO 7: A AVENTURA PROPORCIONADA PELA RESISTÊNCIA INICIAL AO TRATAMENTO



A frase que me marcou muito no filme “Mr. Jones” é proferida pela psiquiatra do personagem de Richard Gare: “Senhor Jones, você não é bipolar, o senhor tem uma doença! São duas coisas completamente diferentes”.
Outra peculiaridade observada por mim tanto no filme “Mr. Jones” quanto no filme “Uma Mente Brilhante” é o fato concreto de que, em quase todos os casos comprovadamente diagnosticados de transtorno mental, ocorre de a pessoa resistir, num primeiro momento, ao tratamento. Independentemente do transtorno mental que a pessoa tenha, a aceitação do problema é quase sempre encarada, inicialmente, com muito preconceito e incompreensão tanto por parte da pessoa acometida pelo transtorno como pelos familiares e amigos. É claro que o preconceito e a incompreensão são um tanto velados, mas existem!
No filme “Mr. Jones”, a personagem principal encarnado pelo ator Richard Gare vive um dilema envolvendo a aceitação da bipolaridade como um problema de saúde crônico, porém, tratável. Além disso, o filme “Mr. Jones” mostra de forma clara o poder devastador do transtorno quando não tratada adequadamente. As relações familiares são, muitas vezes, abaladas pelo temperamento explosivo ou depressivo do portador de bipolaridade. Casais esquecem o juramento eterno de fidelidade na saúde ou na doença e, simplesmente, desmoronam, por possuírem alicerces feitos de areia.
No filme, baseado em fatos reais, “Uma Mente Brilhante”, que conta um pouco da experiência de vida do matemático portador de esquizofrenia, John Nash, torna-se evidente a influência que os problemas mentais exercem na qualidade de vida das pessoas. Nash é detentor de uma mente brilhante que aos poucos vai sendo dominada pela escuridão de um transtorno terrível e devastador. O senhor John Nash resiste o quanto pode ao tratamento da esquizofrenia até a luz da lógica iluminar sua mente e fazê-lo perceber que os seus cabelos brancos se destacavam nas paisagens fruto de sua imaginação.
Níveis descompensados da DOPAMINA é a principal causa da esquizofrenia (DOPAMINA além de ser um precursor para a síntese da norepinefrina, atua como um neurotransmissor em certas sinapses, regulando canais de potássio e cálcio na membrana pós-sináptica. Distúrbios nestas sinapses estão relacionados com o Mal de Parkinson e a esquizofrenia” 17). Estudos recentes de uma área da ciência conhecida pelo nome de genética do comportamento mostram a relação íntima existente entre o consumo de drogas e a esquizofrenia e como esta descoberta pode contribuir para renovar as esperanças dos portadores de esquizofrenia de se verem livres do referido transtorno, haja vista a possibilidade de se criar tratamentos personalizados e de caráter profilático com base no código genético do paciente.
Há indicações, por exemplo, de diferenças genéticas na regulação da dopamina, neurotransmissor relacionado à sensação de prazer. Em algumas pessoas, a cocaína provocaria uma descarga anormal de dopamina, causando vício. É provável que esse medidor químico sofra uma deficiência natural e, portanto, alguns indivíduos sejam mais suscetíveis a se viciar em cocaína, dizem os pesquisadores Howard S Friedman e Mirian W. Schustack, autores da Teoria da Personalidade.18
            Recentemente, foi apresentada uma reportagem jornalística onde cientistas afirmavam a descoberta de uma nova técnica que pode ser considerada um grande avanço no tratamento da esquizofrenia. Os pesquisadores usaram um pedaço de pele de uma pessoa com esquizofrenia e com a ajuda de um vírus forçaram essas células a voltar no tempo até virarem células-tronco embrionárias, que dão origem a vários tecidos. Assim, recriaram os neurônios afetados pelo referido transtorno mental. Tal descoberta gerou a expectativa de uma revolução no combate à esquizofrenia. Com a descoberta dos pesquisadores será possível a fabricação de medicamentos mais potentes no combate ao transtorno e, provavelmente, num futuro próximo, poderemos falar em tratamentos preventivos da esquizofrenia. Chamou-me muito a atenção a imagem de um senhor de idade portador de esquizofrenia, chorando com a possibilidade de um tratamento mais eficaz contra o transtorno. Foi realmente emocionante.
A médio e longo prazo podemos vislumbrar o que chamamos de medicina individualizada, que é basicamente pegar o fragmento da pele de um paciente, transformar aquela pele em célula-tronco e depois em neurônio, a partir daí testar medicamentos buscando aqueles que são mais eficazes especificamente para aquele determinado paciente”, explica Stevens Rehen, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ. 19
            Mudando de assunto, há um agravante no meu caso! Tenho Transtorno Afetivo Bipolar, mas fui diagnosticado inicialmente como esquizofrênico. Passei aproximadamente oito anos da minha existência tratando o transtorno errado. Agora imagina como seria diferente a minha vida se a falha humana não houvesse ocasionado o atrasado em oito anos do diagnóstico correto de bipolaridade.
            No meu caso, foi provado que, muitas vezes, a vida imita a arte, mas a arte não imita a vida. No filme “Mr. Jones” foi tão fácil para a psiquiatra diagnosticar a bipolaridade da personagem de Richard Gare.
Na verdade, graças ao sofrimento fruto dos anos na escuridão me tornei uma pessoa mais evoluída. Sempre peso na balança da justiça a bagagem da experiência adquirida ao longo da minha caminhada e chego à conclusão de que tudo valeu à pena. A luz da minha consciência revela-me que não perdi oito anos da minha existência, mas ganhei oito anos de pura experiência de pele. Senti na carne aquilo que psiquiatra nenhum aprende nos livros.
            Quando iniciei o tratamento para combater a esquizofrenia, resisti com todas as forças à ideia de ter dentro da minha mente um transtorno mental tão grave. Não compreendia o que estava acontecendo comigo. Estava muito confuso e assustado! O que era esquizofrenia? Sou, estou ou tenho uma doença? Para que tanto remédio? Tinha um medicamento chamado “Dalmadorm” que estampava uma singela TARJA-PRETA na caixa.
            Uma vez fui ao consultório de neuropsiquiatria... Durante todo o percurso da minha casa até a Clínica, permaneci com os olhos fixos em direção ao Sol e a minha vontade não era mais soberana. Por mais que minha mãe me dissesse um milhão de vezes: Filho, olhe para mim! Não conseguia desviar o olhar da luz que me cegava. O pior é que eu tinha consciência da verdade, mas alguma área do meu cérebro estava discordando do que a minha consciência considerava verdade. Deus não é heliocêntrico! Meu cérebro estava demonstrando uma rebeldia nunca antes experimentada por mim. O neurocirurgião Ben Carson estava certo ao afirmar: “O cérebro é um milagre20. Eu estava errado ao renegar o tratamento capaz de colocar meus olhos na estrada e minha mente no caminho certo. Talvez não fosse o melhor tratamento?! Mas era o único disponível naquela altura do campeonato. Temos que levar em consideração o fato de o diagnóstico do Transtorno Bipolar ser uma realidade recente na história da humanidade.
Em minha opinião, todos deveriam experimentar participar de psicoterapia. Comparo a psicoterapia com um encontro consigo mesmo. Geralmente, a pessoa que se propõe a participar de sessões de psicanálise, descobre um novo ego a cada sessão. Eu, particularmente, me surpreendi com as revelações sobre o meu ter bipolaridade. Nunca poderia imaginar que o meu diagnóstico pudesse estar errado. Em poucas sessões de psicanálise sofri uma metamorfose de um esquizofrênico enganado a um bipolar consciente. A psicanálise foi para mim uma espécie de Ferrari que alcança de zero a cem quilômetros/hora em menos de 10 segundos. Num dia fui dormir esquizofrênico no outro acordei bipolar!
            Olhando um pouco o passado, observo que são, justamente, as crises maníacas/hipomaníacas que marcaram minha vida profundamente. Quando a depressão penetra a nossa alma todas as paredes e móveis do quarto perdem a cor. Contudo, são nos momentos de depressão que a realidade dissonante da pessoa com bipolaridade torna o diagnóstico possível.


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17  O texto em itálico foi retirado do site:
http://www.qmc.ufsc.br/qmcweb/artigos/neuroquimica.html
18  O texto em itálico foi retirado do site:
19 O texto em itálico foi retirado do site:
http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2011/08/cientistas-no-brasil-recriam-neuronios-de-pacientes-com-esquizofrenia.html
20 Citação retirada do filme “Mãos Talentosas: A História de Ben Carson”.



FONTE: ARAÚJO, Denio Medeiros de; SIMPLESMENTE BIPOLAR; 1º Edição Digital, Caicó: Editora Blogger, 2016.

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